quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Pedaços

Calam-se os olhos
Fecham–se as bocas.
Momento de pausa
Perdido entre futuro e lembranças.

Marcando o caminho,
Por falsas tentativas,
Por falsos medos ,
Estão as pétalas de cada rosa que se perdeu.

O cheiro se foi,
O mar levou pra perto de outro alguém
O que deveria continuar aqui.
O vento carregou os bilhetes das mudas palavras,
Que mudas, mudaram o destino .

O retrato já rasgado
Ficou fixado naquele porta-retrato velho
Colocado na ultima gaveta
Entre entulhos , papéis e coisas já sem valor.

Esquecido ,
Esquisito aos gostos comuns
Temido pelos que lembram
Sumido para os que seguiram

O copo de vidro
Meio cheio, meio vazio
ainda contém uma pedra de gelo.
Água sólida, endurecida pela frieza do ambiente

A pedra , de gelo ,
não se deixa derreter
E ,mesmo sabendo que isso tornaria o whisky mais saboroso,
Prefere continuar na sua sólida solidão.

Dominique Arantes

sábado, 4 de agosto de 2007

Pássaros

"1 , 2, 3 ...

Deu seus primeiros

Desequilibrou ,

e não mencionou sua dor


Aquela mulher não era mais a mesma.

Olhou pra trás, dessa vez sem medo do que viu,

E seguiu .


Deu mais 5 passos em direção ao sol ..

E, em cada passo, se distanciava do passado.

Os passos eram asas, ainda frágeis,

mas tentando fazer a donzela voar.


Estendeu as mãos,

não tinha mais abrigo.

A única maneira de continuar de pé

Era seguindo.


Acelerou os passos

E chegou a correr

E quanto mais olhava para trás

Dava-se conta de que seu presente, ainda indefinido,

Tinha largado de vez o passado.


Correu tanto que saltou

E dos saltos, voou ...

Sentiu o ar em seu rosto

Sentiu-se liberta!


O vento batia em seu corpo

E carregava para um infinito distante

Todos os seus medos e indagações


Voava livre e leve .

Abria seus braços ,

Mas nada abraçava.

Só seguia.


Até que voltou a colocar os pés

Em terra firme.

Era um chão duro

cercado de folhas secas de arvores centenárias .


Ela voltou a caminhar,

Estranhando o local em que se encontrava.

Tudo novo e estranho aos seus olhos.

Não temendo o perigo , seguiu em frente.

Seguiu, seguiu, e não achava a chegada,

Então decidiu não buscar o fim do caminho que percorria

E sim, percorrê-lo.


A noite chegou ,

olhou pra trás ,

não via mais os rastros dos seus passos ,

nem as vozes soavam mais em seus ouvidos.


Então caminhou feliz,

Crendo que tudo havia acabado.

Olhou pra trás pela ultima vez,

E, por não ver onde pisara,

tropeçou numa pedra.

Caiu com a testa no chão,

Abriu os olhos e reconheceu aquele piso.

Levantou-se lentamente,

Enquanto sentia o gosto de sangue em sua boca.


E de repente, viu-se no mesmo lugar em que partiu.

Havia, esse tempo, todo andado em círculos

E quanto mais corria mais se aproximava de onde partiu.


Desatou a chorar, quando percebera que tudo houvera voltado.

Olhou aquelas pessoas, aquele lugar, sentiu aqueles sentimentos.

Enxugou as lágrimas, limpou o sangue ,

E decidiu seguir novamente.


Sorriu novamente,

E quis percorrer tudo de novo"


Dominique Arantes