sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ansiedade

Se nós tivéssemos respeitado o tempo
e sido mais que um olhar passageiro sobre o outro
não precisaria, hoje dizer, sobre o que não fomos.
Diria sobre os sorrisos no café da manhã.

domingo, 6 de novembro de 2011

Vou vestir meias

Dê-me os dias e as horas
inteiras
Para que essa repartição de mim mesmo
torne-se outra coisa que não
pedaços incompreensíveis de um corpo falido.

Digo aquilo que ficou sobre a pele dizendo o transtorno que a sua não presença me torna.

Respiro,
os passos comprimidos estalam meu ouvido
Onde estão as suas mãos?
Queria tê-las sobre meu seios

Digo sobre aquilo que nomearam amar.

Pisco-me
Abraço-me
Crio ondulações no arrastar dos móveis

Eu diria que a saudade cava buracos
eu diria que dar as mãos é uma questão de gosto
Eu diria, ainda, que quando você me soltou
pensei em como para de trepidar ao caminhar
pela calçada
Tive que calçar novos saltos
que usar a roupa pelo avesso
Digo que queria um filho assim, com o mesmo tom da sua voz.

Pediria um abraço,
que mê cobrisse os pés
até que meus calos parassem de tremer de frio.

Vou vestir meias.


 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O corpo precisa falar
a gente se mexe
de um lado para o outro
estraga o estomago
mas esquece do grito entalado
de desejo
ali mesmo
onde ficaram os abraços repartidos

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Por hoje, minha sinceridade.



Eu queria dizer sobre nos dois. Na verdade, queria parar de dizer, para que saiamos dessa teoria estupida que inventamos para evitarmos a nos mesmo, para que paremos de ensaiar o recomeço, e que sejamos concretude de novo. Não é difícil, basta que sejamos com todo nossa sinceridade. Basta viver sob o olhar da nossa sinceridade. Porque se os corpos já nos dizem conjunto, para que adiar nosso compartilhamento? Eu quero sim, poder te dizer, 356 vezes sobre quando os seus braços abraçam meu corpo. Eu quero inaugurar-nos diariamente, para que sejamos sempre novidade em nos mesmo. Com você assim, queria construir lençol, travesseiro e coberta. Eu aceito nossas desculpas esfarrapadas e nosso medo de amar. Até daqui à dois minutos, para que quando eu terminar minha fala nossos lábios se encontrem, e transforme nossa covardia em potência. É esse o sentido da felicidade, não? Ser o que se é. Eu necessito de nós. E isso não é racional, é sobre verdade. Quero olhar seu sorriso, só isso, e poder compartilhar o meu. Eu estou te pedindo nossa eternidade, mesmo que não seja para sempre. Mas sejamos eternos agora. Por favor, me beije.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cotidiano

Eu tenho chorado todo dia. Todo dia. Só para dizer sobre amar. Sobre a saudade que me cava buracos no estômago. Sobre a ausência lembrada nos porta-retratos. Choro sobre a estáticidade dos móveis, cravados no tempo, querendo dizer, tentando explicar, a impossibilidade de mudar de lugar. Eu tenho doído. Tenho estado mais feliz também. Mas tenho me rasgado mais. Eu agora choro, porque dizer saudades em palavras, dizer sobre o desejo do abraço ausente é quase que arrancar um pedaço. Eu choro não para que as lágrimas carreguem os pedaços e me façam esquecer. Não. Choro a necessidade de sempre querer estar. Não querer voltar ao tempo, mas querer desejar de novo, mais uma vez, desejar o abraço perdido por baixo da terra. Que cruel essa coisa de viver. De continuar aqui, de ter que mover enquanto a garganta se contorce para calar. Porém, andar, um pé após o outro. Pegar meu chaveiro e abrir a porta.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

oi

É sobre seu braço direito
fiquei esperando deitada
esperando meu encaixe em você

É sobre o abraço apertado
a gente esqueceu em algum outro lugar
aqui, ele não brotou.

Sobre

Sob o meu colo
Sobre esquecer na manhã seguinte
Sobre não prever os esquecimentos

É para não esquecer de ser efêmero que a gente se faz existência.

domingo, 10 de julho de 2011

circulação

É para não esquecermos que não somos duros feito concreto. Para podermos atravessar a pele. Pela pele. Pura pela. Pelo corpo. Corpo é lugar do acaso. É feito do outro. Não da minha pela. Meu corpo está sendo pelo corpo daquela moça ali, que atravessa a rua e tropeça, e mais daquele rapaz, que é alto narigudo, e que passa correndo por mim, como quem me virasse com o vento que faz sua passada. É só pele, e pelo. Então não nos diga para entender quando minha mãos se esticam tentando pegar as suas. É só pela pele, ou pelo. É essa respiração que fica entre nossas respirações. Átomos? Sim tem uma coração. Que já saiu do peito varias vezes. Ele circula, tal qual os outros órgãos. Eu te amo no peito esquerdo. Às vezes meu amor está nas mãos. Às vezes, no púbis. Quando quero muito dizer, sobe ele, o coração, então, ele percorre todo o corpo, e movimenta todos os outros corpos, digo órgãos, que já estão assim embaralhados, e vem até a boca, o meu amor vem à boca, quase saltando querendo ser morte. E eu te amo ali, na boca. Enfim, é só sobre essa troca da pele, dos pelos, dos átomos, dos órgãos. É para não esquecermos que somos corpos atravessados. O corpo é lugar do acaso.

Persistência

Você  pode roubar meu coração e fatia-lo em pedaços.
Não me preocupo. É para isso que se ama né?
Para ser risco.
Eu estou esperando agir em desmedida. Só isso.
Para que a gente possa ser café da manhã mais vezes.
Para ser experiência, e não vazios constantes.
Assim a gente pode ser depois, diferente do antes. Entende?
É simples. Só para poder dizer sobre viver. ou amar. Sobre estar sendo algo por inteiro.
Eu não vou abandonar as folhas antes de escrever nossas silhuetas nelas.
Minha falta de ar diz algo sobre você. Como sua ausência me confunde as pernas.
Eu gosto desse jeito. Do seu. Gosto da sua respiração no meu ouvido. Como quem diz permanece aqui mais alguns dias. Eu permaneço. mesmo que você não tenha dito ou pensando isso. Eu permaneço sobre você atá quando nossos sorrisos cansarem.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Quatro e quarenta e cinco.


Não há peso. Tira esse desgosto de quem está predestinado a não ser amor. Não há peso. Não nos culpe pelo peso de outrora, a hora é outra. Eu queria dizer, que assim, te olhando dormir, com a camisa listrada, e com os pés tensos devido ao frio, que apesar dos pesares, do calos ruindo, eu queria estar aí. Não olhando mas compartilhando o sono, o corpo, o ronco. Queria dizer para você não acordar, não agora, para que eu consiga terminar-nos em palavras. Para que quando te olhe, já não haja lágrimas, nem dor no estômago, nem choro desamparado, nem ducha de agua fria. E que desistir assim de amar é cruel, é feio, é covardia. Te acho covarde. Não me importa seu mau-humor matinal, nem a preguiça enrolado do lençol fino. Gosto da sua estranha inteireza;
Queria pesar mais vezes sobre você. Pesar leve. não sei se te ensinaram essa palavra. Leveza. Ela existe e é possível de ser amor. O lado esquerdo do meu rosto está berrando de dor, o diagnóstico mensal é rinite. Eu acredito que sejam lágrimas petrificadas. Sabe aquilo que a gente não diz? Então, vira dor, depois lágrima e, então, elas petrificam, congelam. Não é rinite, nem sinusite. É palavra não-dita.
Já levantei, nos vomitei quatro vezes repetidas naquela privada branca. Minha cabeça está explodindo, e você irá dormir até às 11 da manhã. Diremos até mais. e eu seguirei chorando, partida, de novo. Que bom. Pelo menos cheguei ao ponto de ser partida. Imagine ficar inteira? Não, não sirvo para isso. Mas é leve. Vai. Decora essa palavra, procura no dicionário, aprende por osmose. Qualquer coisa que te faça ser feliz. Eu sei que você falou tudo para que em mim seja menor a dor. Ou não, você foi inteiramente inteiro e sincero. Que bom. Espero.
Não consigo dormir. Já disse né? Você poderia ter dito às 21h. Estaria em casa. Com meus corticoides e respirando, apesar de latejando. Agora que são quatro e quarenta e um da manhã desta quinta-feira, acho que estou mais preparada para te dizer tchau, até logo, até mais. Mentira. Já estou com saudades, porque nem consigo mais abraçar seu corpo. Deito-me ao seu lado e meu toque no seu, me dói por saber que não seremos mais daqui a pouco.
Eu queria insistir. Não desistir. Mas sou um. Te disse. Minha decisão não nos sustenta. Isso é mais que obvio, somos dois. Você disse, eu queria tentar ser feliz com você. Tenta! Então. Vai! Acorda agora, e diz que se confundiu. Não há peso nas palavras, nem nos abraços, nem nos beijos. Quando meu corpo pesa sobre o seu, é só para o gozo, e compartilhamento da pele, da temperatura, da respiração. Não há peso nenhum.
Você deveria aprender a pesar leve sobre mim. 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Como quem diz

E eu quero seus braços aqui,
sobre meu corpo
querendo seu corpo em mim
E eu digo como quem diz "amor"
se cose inteiro em mim

E eu minto o dias distantes
eu minto a falta da falta
E quero seu cheiro em mim
beijar seu sorriso
criar suas falas com
o peito coberto

Me cobre inteira
me impõe o seu peso
faz minha boca sorrir nos frios dias de inverno.

sábado, 30 de abril de 2011

Sei lá

Chorando a  melhor carne assada
A melancia na cabeça
O pudim que deixou o neto enjoado
As músicas  das tardes de calor
As danças pela manhã
Sentindo falta dos segredos surgidos no almoço
Das histórias repetidas à meia-noite
Das danças estranhas das tardes
Acabou a alergia pelo cigarro matinal ou pelo incenso
Acabaram as frases feitas
Acabou o copo lavado errado
A poesia rimada
Estou hoje querendo de novo o revirar das fotos
Desejando o almoço repetido
Gritando por uma reclamação


O abraço mais divertido, cumprido, e dançado
A sintonia, feito música, dos corpos dos olhos


Acabou a "saudade é uma flor roxa que nasce no coração do trouxa"
Porque hoje serei trouxa e chorarei todas as saudades.
Tudo fica.

domingo, 17 de abril de 2011

Gosto

Eu queria falar com você. Dizer sobre o que a gente não conseguiu construir. E dizer que foi bom, que foi gostoso. Que nossos encontros foram essenciais. E que eu podia debruçar-me outras centenas de vezes sobre seus lábios se você assim também quisesse. E que quando seus olhos me falam, tenho vontade de pular no seu pescoço e dizer que sim, que agora a gente pode se conduzir inteiros sobre a cama. E dizer para você acreditar na minha presença ao seu lado. E dizer as tantas coisas que não foram concretizadas mas que seu sorriso e sua vontade permanecem em mim. E que eu ainda acho que vamos nos achar de novo, em um outro momento. Mas eu não falo nada para não criarmos uma história que ainda não existiu e não quebrarmos a idéia de existir em conjunto de verdade. Desculpe-me a sinceridade, mas sinto falta dos seus braços na minha cintura.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mesmo que eu tenha que mudar os móveis de lugar...

Eles vão carregar nossos corpos,
Vão trepar escondido,
Vão sorrir pela manhã,
Vão comprar flores,
Os moveis vão dizer eu te amo, e depois partir.

Mesmo que eu mude os moveis
ou compre outro imóvel
Mesmo que eu abrace as plantas
ou crie um cachorro
ou rale o joelho no asfalto quente

Não se pode desmemorizar afetos.

sábado, 2 de abril de 2011

Sobre o que vem depois

Prendo meus lábios ao seu.
Dói a forma que nossos corpos escolheram para criar comunicação.
Dói o seu gosto na minha saliva. Seu gesto.
Não me diga sobre os outros corpos. Eu não estou criando nossa posteridade.
A gente se fura só com esse instante e depois a gente despensa os fluxos.
Se deixa partir. Sem ficar pedaços. Partir.
Eu não sei escorregar meu corpo no seu sem carregar os pedaços.
Desculpa. Eu menti sobre a posteridade. Sobre o que não vem depois.
Você me dói. Estou latejando sua pele em mim.
 

quinta-feira, 3 de março de 2011

refluxo de reflexões

Eu estou enjoada. estou de pé aqui. Tentando ser gente. ser corpo. Estou pulsando com os olhos mil e uma informações. Estou enjoada. Enojada. Não sei de que, de quem , da onde. Estou. Tentando acelerar os costumes. Sedetaria.Sedenta na vontade de não ser mais. Nem mais um segundo. Ficar assim de pé, dói.
Tudo gira.
Verdade.

Alguém me arranca o estômago?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Suba

Antes de eu subir ao ônibus, eu disse. Espero que volte. Que voltemos. Um dia. Voltemos com nossos braços sobre os corpos. Eu disse. Como se abraça a ausência? Não chora. A gente está bem. Não vê? Estou indo arrumar a casa. a outra. É preciso tudo lindo, a flores compradas. Vou rasgar toda essa tontura que me envolve. Faz alguma coisa. Para de ficar parado, feito pedra gelada. E diz algo. Diz "estou de volta pro seu aconchego". Não, você não vai dizer. Quanta covardia presa num ponto de ônibus. Queria sua desmedida, para beijar-me aqui, sem saber ao menos se este desejo também é meu. Mas beija-me. Vamos. Aboli toda essa escravatura escrita na sua ética de convivência. Deixa-me trair o outro corpo que me espera. Só falta um impulso seu. Vamos. Vou indo. O ônibus dará partida. Estou partida aqui. Me leva contigo. Não vai adiantar o tchau do outro lado da janela, ele não preenche os dedos. Subo os degraus. Você fica .Então acesso.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Escritura

Quanta gente. Pudera eu ser o mar e me afogar em mim mesma. Eu o faço. Afogo-e constantemente nos tormentos deste corpo. Ele diz "quero te ser". Estou parada. Movimento meus caninos. Existe um barulho esquisito. Como se fosse possível ficar parada. Isso foi uma ironia. Estou fixa, mas sou movimento. Impreciso, claro. Não sei aonde irei dar, nem sei de mim dar as palavras certas. Eu digo "quero tecer, escrever movimentos". Deixe-me tecer os coisas tortas e bonitas. Gostos de coisas bonitas. Coisas que ficam nos sorrindo e pedindo abraços. Sei, elas nos rasgam, mas sorriem. Gosto de coisas que me rasgam. Não me deixe quieta. Quisesse eu parar, pediria a morte. Para parar tudo, toda a inquietação, e todos os rabiscos, parar a circulação do sangue. Parar, deixar de ser movimento é morte. Não! Eu vou dançar até a última linha, para não aceitar ser dada.