quinta-feira, 7 de maio de 2009

ANDARES

4º andar , a porta se abre. Ela entra aperta o térreo. Eles se olham .
Silêncio.

Ele – oi
Ela - oi.

Silêncio.

Ele- tempo estranho.
Ela – todo tempo de distancia é estranho.
Ele – eu me referia ao clima , ta com cara de chuva.
Ela – desculpa.

Silêncio . Chegam ao térreo , a porta se abre. Ela aperta o 13º andar. O elevador volta a subir. Eles se olham.
Silêncio . depois de um tempo.

Ela - Você sempre foge de nós dois , né ?
Ele – eu fujo porque não agüento mais te ver sangrar.
Ela – foi você quem me cortou.
Ele – Prefiro pensar que te feri para que você não morresse mais tarde.
Ela – covardia.
Ele – 13° . Você vai ?
Ela – não , eu to indo embora.
Ele – Mas estávamos no térreo e você apertou o botão.
Ela – só queria te respirar mais uma vez.
Ele – você está me destruindo. Eu só preciso respirar .. aperta qualquer andar que eu vou sair. Não é possível que ninguém queira usar o elevador!
Ela – São meia-noite. Só estamos nós aqui , até meu chefe já foi embora.
Ele – Então vamos ficar subindo e descendo até você me dizer tudo que te engasga ?
Ela – vamos.

Silêncio.

Ele – então . você não vai falar ?
Ela – O que me engasga é você !
Ele – Eu não queria.
Ela – Ninguém quer.
Ele – Como assim ?
Ela – Ninguém quer o peso de carregar um amor.
Ele- Mas como o peso, o amor é leve. Você ta levando a gente pro poço?
Ela – Ele vai parar no G3.
Ele – E a gente ?
Ela – A gente não para nunca.
Ele – Disso eu sei. E gente não para se sentir, de se roçar, de se magoar. Mas às vezes é preciso mudar de andares. Aperta o cinco, preciso te mostrar uma coisa.
Ela – Você tem certeza?
Ele – Dessa vez sim .
Ela – Apertei.

Silêncio

Ele – seu silêncio me mata.
Ela - o que me mata é a sua partida.
Ele – Você não entende.
Ela – Me explica.
Ele – De novo? Você não percebe. Que eu tenho que dar conta de nós dois. Das duas dores , e isso eu não to agüentando mais. ... Ok ... Vamos lá. Você vai entender.

Caminham pelo corredor , ele pega a chave do bolso. Entram na sala. Ele acende a luz. Ele abre a gaveta.

Ele – Quer saber como me dói ? Pronto tudo aqui. Sua primeiras palavras de amor nessas cartas, depois você parou de escrever o quanto me amava. Aqui na carteira , olha ! todos os ingressos de tudo que freqüentamos. Ta vendo essa pasta ? ( abre) nossas fotos. Quer vê mais? ( tira a roupa , fica só de cueca) Ta vendo esse corpo ? é seu . Tem seu cheiro. O cheiro da nossa ultima transa.
Ela – eu não esperava. Não estou entendendo.
Ele – eu to tentando não te destruir .É excesso de amor. Excesso de pele , de cheiro , de lembrança. Foge de mim.
Ela- mas eu não posso.
Ele –Eu vou acabar te matando sufocada.
Ela – Mas foi você quem rompeu. Preciso de ar!
Ele – Eu o roubei de você. Tava tentando te devolver a vida , mas você prefere ser presa.
Ela – Eu preferia tudo como antes.
Ele – Não tem como , eu me tornei obsessivo por você.
Ela – eu prefiro que você me destrua à partir sozinha.
Ele – Você não entende.
Ela – não entendo. Preciso de um tempo.
Ele – eu tentei te dar. Tentei acreditar que isso podia ser leve , que você podia ser leve.
Ela – Eu quero ir com você;
Ele – Pra onde?
Ela – Pra porta da Igreja. Casar e ser feliz pra sempre. Na alegria e na doença., na saúde e na tristeza.
Ele – E se não for felicidade o que nos aguarda?
Ela – eu aceito.
Ele – Eu te amo tanto , que quando me falta ar..
Ela – você respira o meu.
Ele – Isso é cruel , não?
Ela – eu te dou meu ar , meu corpo e tudo que você precisar.
Ele – você é louca!
Ela – E você não resiste.
Ele – golpe baixo abrir o vestido.
Ela – E você acha que eu partiria depois disso tudo.
Ele – seria o mais sensato.
Ela – A paixão não é sensata.
Se beijam.

Fim

Dominique Arantes