quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Que seja leve.

Sobre meus pés
mais nenhum peso .
sobre mim,
nada.

Se vão
todos os eus e meus
e nossos
que me prenderam até aqui.

Não posso
com palavras ,
explicações ,
nem nada .

Só coisas
que me façam
voar.
Por favor!

Vamos chutar
isso que nos coloca
embaixo,
para longe.

Façamos
um grito,
bem brega,
em favor da leveza.
(Aquela é que insustentavél).

Mas tentemos!
Tentemos ser
não sendo
e sendo o que for.

Tentamos
ser outros e nós mesmo.
É para experimentar
que estamos aqui.

Sim ,
sem excessos,
sem peso.
Só assim , sorrindo.

Vou sendo sorriso
e deixo pra trás
tudo e qualquer
coisa que em mim
se faça pesar.

Só vou permitir
o que é da ordem
das asas,
dos vôos.

Vou me permitir
em você, inteira.
Mas desde que
seu peso não me cause dor.

Pese leve!
Assim , como era no principio
quando ainda eramos pensamentos.

Vou deixando o vento me carragar,
até você,
ou para outro
lugar.

Vou deixando,
amando ,
sorrindo ,
brincando.

Deixando ,
no gerundio.
Pois tudo é
sempre
transformação.

Para nós, asas!
E que seja leve enquanto dure!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Sobre hoje.

Tem um copo
em cima da mesa.
Tem um copo
que conta de ti.

Ele está todo bebido
não há café
nem leite
nem pó

Tem ainda,
em cima da mesa,
a minha duvida
sobre nós dois

Tem ainda
a vontade de pular
nos seus braços
de ouvir sua voz

Tem aqui ,
depois da mesa ,
na porta à direita,
seu cheiro no lençol

O que falta
é você.
inteiro , cortado,
do jeito que puder.

Você me falta
no olhar ,
na pele ,
no pelo.

Me falta
abrir a porta
pra você voltar.

Dominique Arantes

domingo, 20 de dezembro de 2009

Rascunho

Eu vou ficar escrevendo até que algo de verdadeiro saia dos meus dedos. Vou ficar aqui , cansada , dizendo coisas sem sentido , pra ver se consigo ser algo menos superficial. Quando eu parei de pensar na nossa existencia? Porque a gente é só pele , e pele é superficie , e eu preciso estar em algo mais denso. Eu já reclamei outras feridas, mas sua falta de força contra a minha pele me deixa assim parada , sem sair do lugar. Estou procurando algo que eu possa sentir ... Sabe as flores que você me deu em julho ? pois é , eu não lembro a cor. Estou constatando que perdi minha memoria , será? Como que se chega num lugar sem saber o porquê ? Por que eu estou sentado no sofá , do seu lado , você vendo Tv e eu rascunhando essas palavras? Não , isso não é uma pergunta. Eu estou dizendo que de nós sempre ficam superficies porque eu sento ao seu lado e vocE olha pra frente. Ou melhor , você olha pra frente e eu sempre sento ao seu lado. A flor que vocÊ me deu à três dias atrás já está murcha. Não tem problema , eu vou desenha-la na minha pele até que eu consiga penetrar essa superficie que nos desloca. Essa distancia vai encurtar. Não! Mudarei. Eu vou levantar , abrir a porta e talvez nunca mais volte. Não posso viver nessa falsa construção de n´so dois. Eu vou! E talvez eu não volte. Talvez você leia esse papel. vou deixa-lo caido , ao lado do sofá, como quem esqueceu algo que não deveria. Bom, eu vou. É preciso ultrapassar alguns pontos . Bom , você está contente com a minha companhia , vou esperar seu programa preferido terminar. Não quero ir embora e acabar com a sua alegria cotidiana.

Dominique Arantes

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pela manhã

sorri abre a janela e deixa o sol entrar.

A -Quem é vocÊ?
B -como assim ?
A- você.. você ai me olhando assim , como se eu fosse uma pintira.
B- Você não é, e sabe disso. Mas mesmo assim eu gosto de te olhar.

gargalhadas

B - Por que você sempre acorda com esse humor estranho?
A - Pra te provar que gozo não é sinomimo de felicidade.
B - Nossa...Mas eu vou continuar repetindo meu cheiro no teu corpo .E serão tantas vezes , como já foram , que um dia ainda te amanheço sorrindo.
A - E se não tiverem outras manhãs?
B - manhãs sempre existirão. Vai querer controlar o Sol agora?
A- VocÊ sempre fecha os olhos para as coisas não claras né?
B - Não te compreendo.
A - você ai, abrindo a janela , e ficando cego com o sol da manhã.
B - olha , eu sinceramente não quero começar meu dia assim.
A- desculpa.

silêncio

A- eu disse " desculpa"
B - Eu vou fechar a janela.

silêncio

A - Vem pra cama .A gente atrasa o relogio um pouco e tenta amanhecer de novo.
B - eu venh tentando faz um bom tempo. E você sempre assim, Azeda.
A - Eu não sou azeda. Só to cansada de ser contigo só pela manhã..
B - Por que você não fala? Assim , clara?
A - De ser contigo e só contigo e só pela manhã....Como você pode , hein? Não ter ciumes, não me querer sempre , não ter medo que outro alguém se arraste sobre mim.. Fecha a janela , por favor...não gosto de claridade.
B - Por isso a luz apagada, todas às vezes . ( tempo) Bom , o café está pronto, tem suco na geladeira.
A - Você foge sempre ...
B - Eu não to fugindo , preciso trabalhar ... Olha , fica a vontade. Quando sair , vocÊ sebe onde deixa a chave.
A - vai lá... quinta-feira a gente se encontra.
B - Te ligo! Fica bem .
A - Não precisa me ligar , eu se onde fica sua chave.

Barulho de porta fechando.Ela levanta fecha cortina e volta a durmir.


Dominique Arantes

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Carta a um novo endereço.

Oi ,

Nem sei como dizer. É muito difícil estar aqui, assim , aberta , cheia de feridas à mostra. É difícil. Mas eu “tô”. Queria dizer sobre nós. Nossos corpos. A relação de nós dois. Primeiro queria falar sobre meu braço direito. Tenho três marcas , uma de infância , de um tombo de bicicleta , outra de uma vacina e a terceira é um pedaço da sua unha ainda cravada em mim. Você sempre foi mais forte. O engraçado é que eu não chorei. Seu excesso de músculo que te fez despencar sobre a chuva. Eu só corria. Bom, mas não é disso que vim falar. Quero falar de seios. Os meus. Você sempre achou grande demais pra suas mãos. Onde já se viu? Alguém reclamar de excesso... Eu reclamei você , e seu excesso de reclamação. Meu corpo reclamou seus pudores .Essa sua mania de criticar qualquer ato espontâneo do meu_ corpo. Eu estava ali, com meu corpo, e tudo que queria era a intensidade. Certo , eu me assustei com meus próprios movimentos ao redor de nós. É estranho falar assim, como se tudo ainda estivesse aqui, vivo. Mas, a verdade é que eu nem consigo movimentar-me em sua direção. Fico lembrando daquele terceiro corpo, que tem mais marcas que o meu , mais dores que o meu... Você o mapeou inteiro , e eu sobrei. Mas não chorei.Que isso fique claro, eu sobrei e estou aqui. Em pé. Na direção oposta de vocês. Porque eu corri demais tentando ser parte de algo de onde fui cuspida pra fora tantas e tantas vezes. Muitas vezes , eu me obriguei à agir com naturalidade enquanto vocês riam. Eu ria também. Deveria fazer isso , queria ser parte disso , de vocês. Três. Nunca foi meu número de sorte. Sempre preferi os pares aos ímpares. Acho que era pelo medo de sobrar. Eu “to” sobrando. Estou em frente ao espelho , e estou sobrando de mim mesma. Muito estranho eu falar isso para você, você deve estar rindo. Não me importo.Eu que estou sobrando, e quero gritar minha sobra. Eu não vou chorar. E nem espero que você volte. Aliais, a única coisa que eu quero é que você tire sua unha do meu braço , ta sangrando faz algum tempo. Mas veja como eu sou forte , não chorei. A sua unha vai sobrar! E eu vou rir. Eu “ to” rindo . Que delicia! Calo-me .Não era isso que eu queria dizer, nem rir, mas já escrevi e não permito rasuras de mim mesma. Deixa ficar. Olho para frente , esse espelho ainda é muito embaçado por lembranças. Acho que estou me cortando cada vez mais. Esse corpo estranho que eu olho , está todo aqui inteiro. Não quero apagá-lo , não posso. Chorei. Desculpa. Eu não queria. ( agora falo com minha própria imagem , mas vou continuar escrevendo à ti) Dói , e eu choro tanto . São tantas posições que me doem. Tantos olhos e risadas que me doem . Não choro pela lembrança , mas pelo excesso da falta. Só tenho de vocês o que ficou no corpo , alguns sons , a risada do outro e meu medo de sobrar. Acho que por isso sobrei.
E dói.

sábado, 3 de outubro de 2009

porCelanas

As porcelanas se bateram , mas não tão forte que pudessem se quebrar. Após o susto da provável rachadura , minha mão encontrou teus braços. Era o primeiro contato de algo. Digo algo , porque até hoje não posso definir-nos. Não quero. Não definirei o que foi , nem o que é agora. Foi preciso a possibilidade do fim da delicadeza da porcelana para que um contato nascesse entre nós , o que seriam os restos de nossas trocas ? Rachaduras eternas em nossas almas, abraços medrosos cheios de culpa, olhares trêmulos acompanhados por barulhos de quedas. Era isso que nos mantinha juntos em pé . Excitava a alma , o corpo , saber que meu toque em você provocava tal tremor. Somos essa eterna possibilidade . Quando algo estar pra acabar , nossos olhares se cortam e reiniciamos com toda a delicadeza das porcelanas.

“Querida Porcelana” , Assim você começa sua carta. Com um sorriso nas palavras que me faz voar. E me diz “ matéria delicada e cheia de beleza , que me faz querer abraçar para que ninguém à faça rachar” . Sempre gostei de , por ti , se chamada de porcelana. Isso nos une. Cria algum vinculo eterno. Como precisamos de algo eterno né? O nosso “ Nós” é insustentável. Não há como nos prendermos um ao outro , o preço disso seria a quebra de muitas xícaras , bules e etc... Não queremos esse preço. Não queremos nem pagar. Queremos abraços , beijos eternos , sem despedidas mas já com gosto de saudade. Querendo ser levado pelo vento até que outro encontro nos faça salvar em um movimento ambíguo uma nova e delicada porcelana. Como uma coisa de aparência tão delicada pode ser tão resistente?

Fico tentando achar algo que nos rache de verdade . Não porque quero encontrar , mas sim por prefiro nos proteger de algo. Você sempre diz “Adeus” e me deixa uma nova carta, sem promessa de volta. E eu não espero . Vivo , vôo também. Mas quando seus braços me tocam novamente , fico à espera daquela carta de despedida. Que relação improvável essa que se dá pela vontade do “ adeus” e pela tensão da volta. Eu amo você, seu corpo , seus olhos , seu sorriso. Amo quando nos jogamos num canto qualquer. Gosto do cheiro do seu cabelo roçando nas minhas costas . .. Existe um tremor , uma vontade de se jogar , uma jogada sem medo , uma pagada sem compromisso... Vai indo e vindo .. Mas sempre salvamos as porcelanas.

Dominique Arantes

sábado, 19 de setembro de 2009

Ser meu

Eu queria sorrir.
Mesmo com tudo isso eu poderia sorrir.
Mas dói. No meio desse turbilhão de informações sou coisas que não são as minhas coisas . São de outros. E quando vejo , não me vejo mais.
Quem é aquele ser estranho no outro lado do vidro?
Olhos arregalados , olhar poderoso ,seguro..
Prestes a desabar.
Porque cair é muito fácil.
Desabar no precipício , é como uma virgula pra quem está tão longe de si.
Por que tão longe?
Volta pro seu lugar , quem te levou até ai ?
Volta. A passada é lenta. Ainda não consigo enxergar o chão.
Como as folhas de uma amendoeiras, às vezes vou sendo levada pelo vento ,
Sem rumo , só indo onde esse me guiar.
Mas ele não quer me aterrizar no meu lugar inicial. No meu eu , eu.
Verdadeiro. É meu último golpe .
Vou ser o ser que quiser. Sei que é preciso sangrar.
Mas meus curativos já acabaram. Prefiro , por hora , não arriscar saltos tão altos.

Dominique Arantes

sobre rasgos

Ontem ainda era tudo azul. Agora são outras cores que me escorrem.
A pele lateja. Quero colocar tudo pra fora.
Tudo que há de podre no ser humano, num só golpe. Vou vomitar .
Eu não sei . E o meu não saber sempre me coloca sangrando.
Pois quando não se tem opinião sobre algo , ser manipulado é o que nos resta.
E do resto , são dores e tintas que deslizam-me sob o chão.
Agora sinto a existência , pesada.
Não quero mais isso , nem aquilo , nem aquele , nem o outro.
Vou procurar outra forma . sem linhas ou curvas.
Me envolvo no abraço sincero de mim mesma.
Vou caminhando ,seguindo , querendo partir.
Quero ser livre. Vou me atirar do andar mais alto pra ver se alguém me segura.

Dominique Arantes

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Algumas palavras

Sempre fica um silêncio. Estamos ambos deitados . Olho sua boca com uma apreciação de quem vê o mar pela primeira vez. Fico sorrindo , pois lembro quantas vezes seus beijos me fizeram mergulhar no ar sem nenhuma proteção de mim mesma. Sempre me permiti mergulhar em você. Você disse tantas vezes “ eu te amo”. E eu .. bem .. Eu não me lembro. Sei que Te amo. Eu já disse. Lembra aquele dia que estávamos caminhando no parque e eu peguei sua mão e jure amor eterno ? Eu disse “ eu te amo”. Ou será que foram outras as minhas palavras? Lembro-me : “ Eu me jogaria de uma montanha Russa por vocÊ”. É, foi isso que eu disse. Nossa , como sou inconseqüente com minhas palavras. Eu não faria isso. O que não quer dizer que eu não te ame. Alguma vez eu disse. Não é possível . Ah! Eu escrevi. Tudo bem, não é a mesma coisa. Mas aquele cartão dizia “eu te amo”. Eu tenho certeza. Dizia. Bom, estava escrito “amo acordar e te ver abrindo os olhos “ . Ah! Vamos lá! É a mesma coisa. Te ver vivo, me fez viva. É o mesmo que dizer “ eu te amo”. Tudo bem , eu poderia ter sido mais direta. Você quer? Você precisa disso , né ? Por que me olha assim? Seus olhos estão deslizando por todo o meu corpo, no entanto, você não me toca. Está esperando algo ? Está não é ? Já sei. É a frase. A famosa frase que todos precisam ouvir. Eu vou dizer . “Eu te amo”. Eu disse. Pronto . E agora? Não , foi um pensamento. Verdade , movi meus lábios mas o som ficou preso na garganta. Eu to preparada. Não Tenho medo de te dizer isso. Por que teria? Que expressão PE essa que você faz agora? Ah , desculpe-me , eu ri. Você não deve estar entendendo nada , né? É um riso nervoso. Algo que estremece os dedos, mas eu direi. Você já me disse tantas vezes. Em tantos quartos , calçadas , praias e .. enfim. Lá vou eu. Não ! não se aproxime , me deixe dizer . Me deixe. Por que sua mão escorrega em minha cintura e você sorri. Calma. Estou me concentrando. Isso é difícil. Agora . Lá vai : _ Eu..
Não! Porque você me beijou agora? Eu ia dizer. Te fazer mais feliz. Será que você não quer ouvir ? Você quer, eu sei. Às vezes você é tão inseguro. Você precisa das minhas certezas. Só meus olhos e meus gestos não te dizem muito. Os seus dizem à mim. Uma flor vermelha me lembra paixão. A areia me diz sobre a paz de acordar contigo. O ar me diz sobre pássaros . Eu deitada ao seu lado , te olhando sem piscar , flutuando em seus beijos , te dito que te amo. Mas você ainda não escutou. Amanhã te direi. E você será mais feliz por me ter com a certeza que os homens precisam.

Dominique Arantes

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Incorpóreo.

Já não falo mais. Te olho.
Uso palavras quando elas completam meu silêncio da forma mais poética possível. Não porque sou poeta , mas porque são teus olhos que me dizem poesias. Você não enxerga. Não quer enxergar. Mas estou te dizendo coisas em cada gesto. E você se finge de morto. Estúpido! Estúpido como só você pode ser. Está ainda esperando uma frase minha que vá te tirar do lugar. Mas eu não direi. Estou gritando com meu corpo e você não percebe. Estou te jurando dias quentes e você espera pelo som das sílabas se juntando. Pois as sílabas são ditas sempre que arrasto- me em você , o meu corpo diante de você é tudo que eu posso ser. Não é fútil , muito menos vulgar. Sou eu entregue , querendo dizer-te só, e somente , por respiração.
Se meu corpo berra através de suores você não pode senti-lo ? Como pode ser tão concreto assim ? Fique mais um pouco . Tire esse ar de quem quer entender o universo. Experimente senti-lo. Porque você não desliza sobre mim e tenta entender tudo que te digo? Agora farei um som. Compreende? É a minha declaração. Você me faz feliz. Estou me declarando e você esperando palavras... Estou te sentindo inteiro , navegando sobre seu peito. É isso. Meus movimentos te dizem tudo . Passe suas mãos em minha cintura . Agora pode entender-me? Não é possível. Eu não me canso. Ainda te direi , sem palavras, tudo que sinto. Não é esse o objetivo , mas quero tirar-te do chão. Estendo minhas mãos sobre mim mesma, agora você me vê numa dança só minha. Compreende a poesia ? Você sorri , me faz bem. Olha para mim como nunca antes. Estende seu braço em minha direção. Esta escrevendo junto à mim. Olha ! estamos dançando a mesma música. Não , não faça essa cara , não tente decifrá-la. As canções são só para serem ouvidas . Vamos dançar todas as posições até que o sol apareça por aquela janela. E ainda eu te direi, deitada sobre seu ombro, na completude de nossas respirações, tudo que precisa sentir.

Dominique Arantes.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Atos ... ( modificado)

"No ato primeiro
Eu ando e canto
Coloco-me na sua frente
Desconfigurada ,
revirada , invertida

Meu segundo ato
É me doar ,
Dar meu corpo
Pra você sair do seu lugar

E esse limite entre nos
É quebrado por que
Quem atua , quem responde ,
Também é você.

Terceiro.
Respiro , calo
E de repente falo de mim.
Para todos ouvirem.
Meu ato autobiográfico .

No quarto (ato),
Me tranco no quarto ( paredes),
E só quero te ver outra.
Outra, muda a roupa.

E surge mais um,
E o Ato se transforma ,
Agora sorridente , gozando do excesso,
Meu quinto (ato)
Se desmembra por todos os meios.


Eu preciso lembrar do primeiro."

Dominique Arantes

domingo, 21 de junho de 2009

Pelos cortes e cicatrizes.

O diferente nos corta
E em toda manhã, um ou outro
Está limpando ou tampando todas as cicatrizes

E,
todas as relações se dão pelo poder
O meu de obedecer,
O seu de ser poder.

Podendo por horas mandar,
E eu nada fazer.
Porque,
desde sempre,
menos me disseram que eu era,
assim na margem por aqui fiquei.

Por outro lado,
Querer crescer poderia fazer do meu poder
Violência.
E mais,
De sua violência meu poder.

E de tudo,
fica o que é seu sobre mim
Anulando-me os gestos, o corpo e a fala.



Dominique Arantes
15 de Junho de 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

VEZES

Às vezes

tenho medo

do que você me causa.

É tanto tanto

que fura os olhos

e pega a alma

às vezes

quero gritar

apagar o escrito e

te tocar de verdade.

E então seus olhos vem

e vão

em vão .

Porque de tanto querer

desaprendi a falar

e fico só

imóvel

te vendo olhar

desaprendi .

Às vezes,

eu só queria

dizer um "oi" e te fazer

me querer ouvir falar.

Só às vezes .

Porque quase sempre,

prefiro teus olhos à me vigiar ,

e eu fingindo não te ver,

sem nada saber,

só querendo ,

sem querer te assustar,

pegar o teu olho à me olhar

pra ver por quanto tempo

seus olhos me olham

e penetram em mim.



Dominique Arantes

coberta

Olharam-se.

- e então ?
- tudo indo .

( riem )

- Eu sei. Nós?
- indo
- disso eu também sei.
- ah é? E então, o sobre o que você não sabe ?
- Seus olhos
- Que tem eles?
- Eles me furam toda manhã.
- Só pela manhã?
- Sempre que na noite anterior me deito em você.
- E quando sou eu quem fica por cima?
- Ai então .. desculpa.. não sei responder.
- então você se cala.. É isso que acontece quando quem deita sou eu.
- É . Eu me calo.
- Porque meu corpo não te corta tanto quanto meus olhos.
- Não. Seus olhos não me cortam, eles me furam.
- e domora pra cicatrizar?
- não cicatriza nunca.
- nunca?
- talvez um dia , mas ainda não presenciei isso.
- entendo.
- não. Provavelmente não.
- e se eu te disser que comigo é o contrario.
- como?
- seu corpo.
- que tem ele ?
- seus poros respirando me matam.
- quando eu fico por cima?
- Quando eu respiro no seu pescoço.
- e dói ?
- sangra.
- dói ?
- Não. Sangra.
- hum.
- estranho..
- e que a gente fez quando acorda?
- se olha e sorri. Porque só nos resta limpar os cortes.
- agora tem uma parte minha em você.
- você.

Dominique Arantes

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ANDARES

4º andar , a porta se abre. Ela entra aperta o térreo. Eles se olham .
Silêncio.

Ele – oi
Ela - oi.

Silêncio.

Ele- tempo estranho.
Ela – todo tempo de distancia é estranho.
Ele – eu me referia ao clima , ta com cara de chuva.
Ela – desculpa.

Silêncio . Chegam ao térreo , a porta se abre. Ela aperta o 13º andar. O elevador volta a subir. Eles se olham.
Silêncio . depois de um tempo.

Ela - Você sempre foge de nós dois , né ?
Ele – eu fujo porque não agüento mais te ver sangrar.
Ela – foi você quem me cortou.
Ele – Prefiro pensar que te feri para que você não morresse mais tarde.
Ela – covardia.
Ele – 13° . Você vai ?
Ela – não , eu to indo embora.
Ele – Mas estávamos no térreo e você apertou o botão.
Ela – só queria te respirar mais uma vez.
Ele – você está me destruindo. Eu só preciso respirar .. aperta qualquer andar que eu vou sair. Não é possível que ninguém queira usar o elevador!
Ela – São meia-noite. Só estamos nós aqui , até meu chefe já foi embora.
Ele – Então vamos ficar subindo e descendo até você me dizer tudo que te engasga ?
Ela – vamos.

Silêncio.

Ele – então . você não vai falar ?
Ela – O que me engasga é você !
Ele – Eu não queria.
Ela – Ninguém quer.
Ele – Como assim ?
Ela – Ninguém quer o peso de carregar um amor.
Ele- Mas como o peso, o amor é leve. Você ta levando a gente pro poço?
Ela – Ele vai parar no G3.
Ele – E a gente ?
Ela – A gente não para nunca.
Ele – Disso eu sei. E gente não para se sentir, de se roçar, de se magoar. Mas às vezes é preciso mudar de andares. Aperta o cinco, preciso te mostrar uma coisa.
Ela – Você tem certeza?
Ele – Dessa vez sim .
Ela – Apertei.

Silêncio

Ele – seu silêncio me mata.
Ela - o que me mata é a sua partida.
Ele – Você não entende.
Ela – Me explica.
Ele – De novo? Você não percebe. Que eu tenho que dar conta de nós dois. Das duas dores , e isso eu não to agüentando mais. ... Ok ... Vamos lá. Você vai entender.

Caminham pelo corredor , ele pega a chave do bolso. Entram na sala. Ele acende a luz. Ele abre a gaveta.

Ele – Quer saber como me dói ? Pronto tudo aqui. Sua primeiras palavras de amor nessas cartas, depois você parou de escrever o quanto me amava. Aqui na carteira , olha ! todos os ingressos de tudo que freqüentamos. Ta vendo essa pasta ? ( abre) nossas fotos. Quer vê mais? ( tira a roupa , fica só de cueca) Ta vendo esse corpo ? é seu . Tem seu cheiro. O cheiro da nossa ultima transa.
Ela – eu não esperava. Não estou entendendo.
Ele – eu to tentando não te destruir .É excesso de amor. Excesso de pele , de cheiro , de lembrança. Foge de mim.
Ela- mas eu não posso.
Ele –Eu vou acabar te matando sufocada.
Ela – Mas foi você quem rompeu. Preciso de ar!
Ele – Eu o roubei de você. Tava tentando te devolver a vida , mas você prefere ser presa.
Ela – Eu preferia tudo como antes.
Ele – Não tem como , eu me tornei obsessivo por você.
Ela – eu prefiro que você me destrua à partir sozinha.
Ele – Você não entende.
Ela – não entendo. Preciso de um tempo.
Ele – eu tentei te dar. Tentei acreditar que isso podia ser leve , que você podia ser leve.
Ela – Eu quero ir com você;
Ele – Pra onde?
Ela – Pra porta da Igreja. Casar e ser feliz pra sempre. Na alegria e na doença., na saúde e na tristeza.
Ele – E se não for felicidade o que nos aguarda?
Ela – eu aceito.
Ele – Eu te amo tanto , que quando me falta ar..
Ela – você respira o meu.
Ele – Isso é cruel , não?
Ela – eu te dou meu ar , meu corpo e tudo que você precisar.
Ele – você é louca!
Ela – E você não resiste.
Ele – golpe baixo abrir o vestido.
Ela – E você acha que eu partiria depois disso tudo.
Ele – seria o mais sensato.
Ela – A paixão não é sensata.
Se beijam.

Fim

Dominique Arantes

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Por toda a minha vida

Já é hora , mas a ALMA fica. O CORPO vai e procurando as feridas , tenta justificar o caminhar TORTO em outra direção. Ai vê-se que o amor ainda está , ainda sobreVIVE em meio a tanta confusão. Difuso nos VENTOS E OLHARES , ele ainda está. E vai além , porque descobre-se que amar não é só toque , nem ar. Descobre-se que de tanto amor a alma transcende e páira em outro lugar. Somente os DOIS amantes podem entender , pois soa estranho aos sentidos convencionais , o que significa a ETERNIDADE do amar.

terça-feira, 21 de abril de 2009

palavras ao som de rabiscos

Lá fora a chuva chora ,
E eu aqui esperando uma resposta
das minhas palavras resmungantes.

Resmungas-te algo ?
Só diz em silêncio coisas infâmes.
Doce coração que se perde no amar
E no desejo de outras respirações.

Ah! Um dia ainda hei de amar a discórdia!

Por hora gosto do som das gargalhada,
Dos amantes na madrugadas arriscadas,
Das marcas nos corpos com riscos dos suores
em si mesmo perigosos

Como era doce amar nas primaveras.
O gozo suave dos lençóis molhados
Gargantas secas , ofegantes respirações.

Era doce sua saliva dizendo “ Je t'aime”
Enquanto sentia todos os meus prazeres.

Sem discórdia parto , para que
Qualquer possibilidade de dor
Seja só lembranças de lençóis
Rasgados com a marca do nosso amor.

Dominique Arantes

Sob as asas

Quando me calo , eu falo
Quando te olho , eu calo.
Sem querer te falo coisas
Nos mais simples cruzar das mãos.

Quanto mais quero , esqueço-me.
E agora digo que vou.
Voar e arder por outros ventos

Quanto menos falo , mais sinto.
E livro-me de mim mesma
e meus pesos insuficientes.

Quero amar o simples vento
soando em meus lábios.
E me ver voando sem espera ,
sem qualquer coisa que me finque no chão.

Tanto quanto eu sinto,
E te quero por perto.
Quero também me olhar só,
E completar a mim mesma

São só asas que precisam de ventos.
E , dessa vez, pelos simples bater delas
É que a busca deve ser feita.


Dominique Arantes

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

braços

É difícil abrir a porta.

Ora parece emperrada , ora pesada , ora trancada . Porém, às vezes a abro de forma tão ligeira e bruta que ela bate na parede externa e volta me empurrando pra dento.

É... às vezes é difícil abrir a porta.

Talvez quem está dentro poderia me olhar com mais clareza , tentando ver meus desejos e apagar seus egos. Eu , tenho chave , chaveiro , sei onde é a fechadura , sem pra que lado abre , mas às vezes me falta força pra partir sem machucar quem fica, e equilíbrio para não iludir quem espera.

Agora estou querendo um pouco mais de ar .
Ar por mim , não por outro.
De porta aberta, de vento circulando , sozinha porém.

Dominique Arantes