sábado, 19 de setembro de 2009

Ser meu

Eu queria sorrir.
Mesmo com tudo isso eu poderia sorrir.
Mas dói. No meio desse turbilhão de informações sou coisas que não são as minhas coisas . São de outros. E quando vejo , não me vejo mais.
Quem é aquele ser estranho no outro lado do vidro?
Olhos arregalados , olhar poderoso ,seguro..
Prestes a desabar.
Porque cair é muito fácil.
Desabar no precipício , é como uma virgula pra quem está tão longe de si.
Por que tão longe?
Volta pro seu lugar , quem te levou até ai ?
Volta. A passada é lenta. Ainda não consigo enxergar o chão.
Como as folhas de uma amendoeiras, às vezes vou sendo levada pelo vento ,
Sem rumo , só indo onde esse me guiar.
Mas ele não quer me aterrizar no meu lugar inicial. No meu eu , eu.
Verdadeiro. É meu último golpe .
Vou ser o ser que quiser. Sei que é preciso sangrar.
Mas meus curativos já acabaram. Prefiro , por hora , não arriscar saltos tão altos.

Dominique Arantes

sobre rasgos

Ontem ainda era tudo azul. Agora são outras cores que me escorrem.
A pele lateja. Quero colocar tudo pra fora.
Tudo que há de podre no ser humano, num só golpe. Vou vomitar .
Eu não sei . E o meu não saber sempre me coloca sangrando.
Pois quando não se tem opinião sobre algo , ser manipulado é o que nos resta.
E do resto , são dores e tintas que deslizam-me sob o chão.
Agora sinto a existência , pesada.
Não quero mais isso , nem aquilo , nem aquele , nem o outro.
Vou procurar outra forma . sem linhas ou curvas.
Me envolvo no abraço sincero de mim mesma.
Vou caminhando ,seguindo , querendo partir.
Quero ser livre. Vou me atirar do andar mais alto pra ver se alguém me segura.

Dominique Arantes