domingo, 26 de setembro de 2010

Uma besteira qualquer

Havia uma fala específica, de um silêncio especifico, entre nos dois. Engraçado como temos medo quando os corpos gritam demais. Deve ser por isso que passamos um tempo controlando a expansão dos músculos. É difícil respirar e não estar sobre você, não caminhar seus pelos. Gosto quando amacia minha nuca., é gostoso. Mas devo advertir-te, não sei até quando durarei contigo, tenho outros planos. Em verdade não tenho planos, tenho medos. Medo desse enganchamento todo, de estar presa, de abrir espaço para cosermo-nos. Besteira? Sempre. Mas estou aqui, não estou? Então por enquanto você não precisa de medos, deixe que eu carregue-os todos. Saberei a hora de livrar-me deles. 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

mala

Há aqui um espaço despreenchido. É preciso mais do que barba para chegar com as mãos em minha cintura. Não se faz amores e amassos da noite para o dia. Existe uma incapacidade entre a gente. Não nos culpo. Deixemonos assim. Só que é sempre importante saber partir ou deixar o outro escorrer. Ou as duas coisas. Eu aprendi isso. Faz pouco tempo. Mas isso não quer dizer que não goste do seu peito. Gosto de deitar minha cabeça em ti, e me sentir cuidada. E, logo depois, a gente se parte e se perde. Sei que a essa hora você está arrumando sua mala, reorganizando, separando as cores. Acho bonito quando viaja. Não tenho saudade. Tenho curiosidade sobre o nosso próximo apego.

Tylenol

Eu não vou!
Não é posspivel ser assim. Estar assim. Estou com a cabeça cheia, não há espaço mais para isso que construimos. Sei que é complicada a partida. Sei que também irei partir em silêncio. Venho partindo assim, e me repartindo também. Parece menos doloroso, pelo menos para um dos lados. A cabeça dói, a minha. A sua não sei. Como vai você? De verdade. Como é estar só nisso tudo? A mim, resta o latejar e, como eu parei de tomar remédios, terei que aguentar até que os olhos cansem-se. Desculpa. Hoje, mais uma vez, eu queria pedir desculpas. Eu não devia, mas vou. Irei ligar-te daqui a pouco e dizer que te amo. E dizer desculpas pelo grito à muito abafado. É que às vezes o yoga não funciona. Eu gritei porque esse excesso de generosidade sufoca. Que cruel isso. Eu sou cruel, eu sei. Mais estou sufocada. Na verdade estou, agora, somente com dor de cabeça. Talvez por isso quisesse um pouco de ar, um espaço vazio para eu me relacionar, sem ter que pegar na sua mão. Eu não disse. Mas tenho saudade. Tenho sempre. Todo dia. Sinto falta. Não gosto do que fiz. Fazer uma pessoa assim tão linda chorar. Desculpe-me. Prometo abraços e beijos e flores amanhã. Por hoje, somente um Tylenol.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Final de semana

Aconteceu que a casa cresceu. Eles que eram dois agora são quatro, e isso faz diferença. É dificil não tropecar nos brinquedos, nas panelas, no sapato em frente à porta de entrada. As paredes foram desbotando-se ou eles nem podem mais perceber o cheiro que elas tem. Cresceram as portas, os móveis, as cortinas, o fogão. Tudo apertando-os, fazendo-os esbarrões à cada dez minutos. Desfazendo-os. Tirando o laço, o braço, as mãos. Desfazendo o cheiro, a novidade. Não se suporta mais tanto corpo colado para se estapear. Falta a saudade e por isso estão à correr. Procurando onde ela possa estar, a saudade. Correm na sala, no banho, no café. Correm com as crianças no colo, olhando a tela do computador, a tv. Olhando os espelhos.. Procurando de novo aquele lugar de açucar. Não há possiblidades para parar. Então, correm lá fora. Porque dentro já não há espaço, a proximidade já os distanciou demais. Vão andando para ver se esbarram-se novamente, numa quina, ou numa praça. Calma. As crianças estão seguras, foram passar o final de semana na casa da avó.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Je t'aime mon amour.

Vamos lá!
Vamos crêr que inventamos tudo.
Que era tudo uma mentira inventada
Para satisfazer o ego, ou o corpo, ou a poesia.

Sei lá.
Qualquer coisa que explique a distância de agora.
Porque, se verdade fosse, não estariamos divagando possibilidades.
Estariamos com os corpos colados. sorrindo e dizendo Je t'aime.

Besteira.
Eu não diria isso.
Ou melhor, eu diria isso. Você não.

Não sei.
Eu estou aprendendo sobre isso.
Sobre essa invenção da gente.
Você é uma coisa inventada.


Como as crianças inventam que um pedaço de madeira é um monstro.
Eu inventei um amor em você.
Ou inventei que você era um amor, assim.
E que eu queria ser amor para ti também.

Sim, eu sei.
Não se pode mais.
Mas deixe-me com as palavras.
Preciso dar de comer para esses bichinhos amarelos.

Se digo Je t'aime mon amour.
você não deve acreditar.
É tudo invenção para alimentar os pintinhos.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sem título

Era preciso coragem. Eu gosto disso. De inventar em mim uma coragem e uma força inexistente. E me colocar à prova, até a última torsão do corpo. Até que a dor seja insuportavél. Porque era mais insuportavél a idéia de não amor. de não dizer e se rasgar sobre os amores. Era preciso, em minha mente, ser intensa. É sobre o amor que inventei para permanecer em pé. Porque eu já nem sei até que ponto essa dor se deu de verdade. Falei com você sobre isso, ontem. Que eu não sei onde eu sinto, onde eu invento, e finjo sentir. Mas acredito em tudo que invento! Porque dói. Dói tanto e mais que aquele amor primeiro. Simples. Sem apelos e peles. Eu nos inventei. Aliais, inventei seu corpo em mim, porque não há possibilidade da minha existencia sem uma paixão. Isso é cruel. Eu sei. Eu acho. Mas deixe-me. A violência é minha. Não estou pedindo cuidado, nem pena, nem que você seja inteira, ou em pedaços. Não sei.
Ontem a encontrei e ouvi sua saliva e " você está pessimista. Não era assim. Antes seus olhos brilha:vam e pareciam sempre apaixonados". Eu me assustei. Não sei mais sobre esse controle que nunca acreditei ter. Mas minha invenção colocou-me de lado. Deixe-me. Ela deixou-me. Não me lembro se sorri ou chorei.  

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

As flores disseram, ontem, que precisavam morrer.

Tive, ontem, um grande amor. Ele era vermelho com bolinhas amarelas. Cheirava azedo e tinha um gosto de lírios. Ontem mesmo, eu percebi que amar algo é encantar-se com o amado.



                                         Tenho, hoje, um engano. Penso que a paixão é um engano. Desencantar-se dói.