domingo, 28 de novembro de 2010

Sabe?

Ela fica um pouco triste.
                                 Sim.
Quanto mais se sabe mais se dói.  É DIFÍCIL VIVER DEPOIS DE TANTAS REVELAÇÕES.
Conhecimento atravessa. Queria, ela, achar entusiasmo com toda essa avalanche eterna que é a presença do mundo no seu corpo.

Sobre quando as linhas desfazem os sentidos

Desculpe-me, mas aqui não há mais espaço para qualquer imaturidade. Haveria paciência, não fosse minha falta de dedicação à essa construção. Não há querência qualquer para que isso se sustente. Entende? Acabou não porque aqui deste lado o corpo cansou e não aguenta mais. MAS SIM PORQUE AGUENTA MAIS. E MUITO. Assim, aguenta mil outros corpos gostosos pulsando sinceros. Aguenta ainda muitos choros e gritos e sorrisos. Portanto, desculpe-me esse telefonema desligado antes do meio da conversa. Não vibro sua voz, seu corpo, ou qualquer história sua. Aqui, em minhas linhas, seus espaços acabaram.

Resistindo

Tentando entender os corpos atravessados.
Questionando as culpas.
Gritando para os hipócritas.
Cansando dos mesmos.
Andando de ônibus tarde da noite.
Ainda assustada com a Presidente Vargas sem transito, às 18:30 de uma quinta-feira.
Conversando com meninos de rua, com travestis de rua. 
Sorrindo com o vovô, toda manhã, catador de papelão.
Parando de sangrar os animais.
Querendo desligar, para sempre, a televisão.
Desacreditando no nome "guerra" para isso tudo, desacreditando no bem e no mal.
Reconhecendo a culpa. A parte no todo.
Ficando com nojo dos empresários e do lucro com toda essa propaganda.
indo...
E pensando arte, sempre.
Porque é preciso resistir.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mas venha.
Eu não vou me comprometer com o nosso esquecimento.
Ficarei comendo as palavras para preencher o vazio. Comendo a memória. Chama-se alimentação, repita comigo: A-LI-MEN-TA-ÇÃO. Poderia ser alienação. Sim, perdi a sensibilidade para novas contruções. Mas contrui casa, cozinha e lavado. Tudo com brilho e sem cheiro de mofo. Como nossa cama. Sempre teve um cheiro, ela, a cama, insuportável de corpos mofados.
 Me disseram que era preciso amar o mofo. Aprendi. Dói. Confesso. Mas tudo é superado.
Aqui, não posso dizer amor. A cama não me pertime.

calma.

Nos acalme.
Não vamos definir amor.
Nós podiamos ficar por tempos aqui, falando sobre essa desorientação dos corpos.
Dou-nos um tempo.
Não!
Não estou pedindo distância. Quero-te colado. Entende?
Não se traduz amor com palavras. Você disse: Dê-me um beijo. E só.
Basta. Sentes? Não precisa falar. Está ai. Não deixe escapar esse mergulho na saliva alheia.
Poderia ser amor? Digo sim. Não me deixe entender. Não quero distância, quero calma.
Não vou perder seus toques. Outros pré amores se foram e não sei onde os toques foram parar.
Os seus não perderei. Não por hora.
Existe uma pressa lá fora. Lá! Logo depois da cortina. As pessoas gritam, os carros berram. Todos os atropelamentos possivies. Não há toque.Lá.
Mas, aqui, deixemos os olhos wos toques. Aassim, como desfragmentar o tempo. Esquecer a velocidade das concretudes e das descrênças.
Onde crêr-se na calma.   

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

sala

Não faz isso, tá?

Eu juro que saudade dói. Não sei mais sua cor, seu cheiro. Outro dia olhei uma foto sua, para lembrar sua voz. Achei esquisito. Perguntei-me: Onde eu me apaixonei? Não lembro-me o detalhe que me prendeu à você. Estranho. Sinal de que há desordem. Sempre houve. Eu estou me forçando a não te esquecer. Faça um esforço você também. Seja legal, sorria, me abraçe, cuide da minha dor de coluna, me lembre porque existimos em conjunção por certo tempo. Eu definitivamente não gosto de você. Estou enojada.  Não quero olhar-te, muito menos tocar seu colo. É que eu fico inventando motivos para amar, sempre. Isso é uma potência na minha vida. E eu invento tanto que acredito, e me desespero, me machuco nessa invenção. A gente inventa a vida todo dia. É isso. É uma realidade inventada, luta para não morrer nessa ignorânça toda. Eu invento amores, e como atriz, acredito em todos. Mas agora desacreditei em nós. 

sábado, 6 de novembro de 2010

Nosso poetinha.

A uma mulher

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.



Vinicius de Moraes.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Saudade doce ( para resgatar o que estava esquecido)

Não é do cheiro ou do pelo ou do beijo.
Não é do café ou do mate ou da coca.
Nem do sexo.
É do que somos agora.
Do colo. do sofá.
Nem saudade é.
Talvez desejo.
De sermos em conjunto outra variação.
De surpreender-se com as diferenças.
E mais com os encontros.
Ou talvez das doçuras das manhãs.
Talvez ai estejam as  maiores saudades.
As preguiças cobertas pelo edredon.

Sei lá.
Sei não.
Pontos em descoberta.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Deito-me aqui

Para poder comer seu sorriso pela manhã.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

?

Desculpe-me o egoísmo.

Tem alguém gritando lá fora, e eu reclamando de solidão aqui dentro. Eu estou um pouco assustada. Na verdade, estou com medo. Não sei o que fazer. Sou incapaz , por medo, de descer e prestar ajuda. Eu choro. É um pouco assustador esse gemido todo à essa hora da madrugada. E o pior é que eu nem consegui enxergar a sua cara. A cara da mulher que gritava, assim, as duas e vinte e quatro da manhã. Que imobilidade a minha. A nossa. Agora tudo silênciou-se. Não na minha cabeça. Como faço? Estou um pouco apavorada com toda essa gritaria que se foi. A gente não tem como fugir a matéria. É isso que somos. Corpos. E eles machucam, rasgam, sanram. Como pode? Machucar assim um corpo. Eu sei, estamos cansados desse discurso. Mas não dá. O que se faz com essa nossa imobilidade? É que os gritos interferiram toda a minha possibilidade de reclamação sobre nós. Porque prefiro estar só à estar aos berros com alguém que me invade a matéria. Eu não sei se vou conseguir dormir. Eu sei que estou, agora, segura aqui. As portas estão trancadas. Mas não é possível tranquilidade agora. Me sinto tão minúscula. Não sei resolver o quadro torto pendurado na parede, e quero dar conta da rua. Como faço? Eu não sei se sou capaz de proporcionar alguma mudança. Eu quero abrir as janelas, pulá-las. Onde se muda o todo? Que incapacidade. Que incapacidade. Fico achando que esse teatro todo não modifica nada. Só aumenta a gastrite. E a rua continua distante.

reforma

É preciso lavar as paredes.
Mudar as cores.
É preciso amar o mofo.
O rodo. Limpar a casa.
É preciso cortar a casca.
Cortar as estantes. Abrir as janelas.
É preciso amar os corpos.Os vizinhos.
Os bem-vindos. Os mal-vindo
É preciso cortar os corpos. Os vizinhos.
Os nossos cortes. Cortar as idas e vindas.
Eu preciso catar os gemidos. Eles perderam-se na última ceia.
Eu preciso.
Não. Não preciso amar os corpos nem os mofos nem os pelos nem a pele.
Sim, os orgãos,  a ausência, a sala vazia.
Tem açucar derramado no tapete branco, ninguém nota. 
Eu preciso.



Não preciso. Não tenho certeza sobre nenhuma respiração dita aqui.
Deixe-me gemer.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

amanhã

Eu queria um tempo à mais. Para dizer de novo "me cose em você". Está tudo amargo com essa saudade. Eu gosto. Gosto desse suposto sofrimento inventado para me alimentar. É um pouco estranho, mas me descobri assim, sim. Sim, difícil aceitar. Como se vive da solidão, alimentando-se do resto? Porque tudo vigora e em mim faz sentido quando não há certeza. Quem inventou o amor? Eu nomeio amor sim. Amo esse abraço partido, esse cheiro embolado , uma saudade. E não sei, sabe? Você podia não voltar. Seria melhor. Para os pequenos. Eles ficam confusos com esse vai e volta todo. É muita desarticulação das partes. Como pode-se amar esse desencontro todo? Eu amo. Cada rasgo, cada corte. E gosto de sorrir nossos corpos esquecidos. Quero esquecer a seu lado e registrar nossos sentidos. Não vou lembrar do que fomos. Me deixe ver isso que criei para nós dois. Hoje senti saudade. Digo-te amanhã.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Café da manhã

Acho que é isso. Só restamos nós mesmo. Dois e alguns fragmentos de outros. É dificil esse compartilhamento. Seremos nós assim?  Porque sempre nos encontramos quando dar-se fim em outro. Há um cansaço de tudo isso. Quinta-feira tudo irá resolver-se, com flores ou tiro. De qualquer forma, tudo machuca.