sexta-feira, 30 de julho de 2010

Coluna

Tanta coisa para ler sobre a mesa, e ela só pensa em comprar mais livros. Como se no ato de consumir o objeto, pudesse dele tirar sabedoria. Tudo farsa. Ela lê sempre os três primeiros capitulos dos três livros, que sempre compra em conjunto, de forma simultânea. Fica parada, olhando as palavras e forçando sua coluna à ficar ereta, a aguentar a aprender. Depois deita e esquece o que fazia, que lia. E começa a cantar uma música qualquer, sobre um lugar qualquer. E desaprende tudo. E recomeça, para desaprender sempre.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quero outras verdades.

domingo, 18 de julho de 2010

novos movimentos

Quero dançar você.
Dançar seu corpo.
Você. Seus medos
Dançar.

E me deixar embalar pelo som dos seus ruidos.
E dançar seu pelo, sua pele, sua saliva.
E caminhar em você, nos seus poros.
E amarrar minha boca nos seus peitos.


Quero ser dança em você.
E ser seu movimento.
E me colar e descolar do seu colo num movimento cíclico.

Quero você em seu movimento
Na surpresa que se faz em mim.
Na sua boca nova.
E experimentar sua língua.

Vou ser atropófago
E devorar-te
Movimente-me.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Deixa fugir.

              Eu não queria me perder de você. Mas acho que está sendo inevitável que nossos corpos se esqueçam. E eu tenho me perdido tanto de tudo. Das suas palavras e toques, e das minhas decisões sensatas. Eu queria ficar, por mais algumas horas. E ler suas metáforas e decifrar seu gozo e ouvir seu suor e durar com você até que a gente se gaste inteiros, e realmente sinta que vivemos o que tinhamos para esse encontro. E, assim, possamos partir sorrindo, sem a sensação de que faltou um abraço ou um sorriso ou um verso sobre nós. Sem essa saudade do que poderiamos ter sido. Quero te escrever mais versos, não me deixa fugir.

Leve-me

Outro olhar e eles não durarão mais.
Porque é sempre assim. E faz tanto tempo que eles olham-se e se dovoram sem toque.
Por que é sempre assim? É que já foram tantas possibilidades não cumpridas, que o corpo dela não se contenta mais com os olhos medrosos dele. Quer um corpo sobre o outro, ou ao lado, tanto faz. Quer sentir o que o peito dele lateja  e fazer com que o seu trema por consequência. É que eles se entenderam assim, nessa troca dos olhos, nesse olhos na boca. Eles criaram esse jogo gostoso, sincero de saber ter paciência. De não saber se algo se fará concreto. Mas eles sabem que estão ali, juntos, fundidos, unidos. Sabem que uma outra pessoa que os cruza no meio, não ter força para desfazer a direção dos olhos. E ficam assim, dançando distante. Colando seus corpos em outros para satisfazer a pele. Para que não venha o desespero. Ficam assim, sorrindo, bonitos, cantando calados seus versos invertidos de não-amor. Vai ver é isso. Ambos terão que acreditar que se pode dar as mãos pelo olhar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Flores

Aquela flor ali em cima, é plástico. Em cima da mesa. É plastico. Não tem nada de verdade ali. Foi uma verdade que você inventou para criar suas rimas. Para ter com quem olhar. Ter o que olhar. A gente já viu isso naquela peça. Plástico não guarda memória. É coisa dobravél que está sempre rindo. Sempre com a mesma cara. Ele não se afeta. E nem afeta ninguém. A não ser, que como você, a gente crie essa ilusão de que realmente há sentimento ali. E você acreditou que era algo real? Por que? Você precisava realmente sentir isso. Você já viu um girassol de verdade? Já tocou nele. Já viu como ele sorri quando é cuidade, e como ele precisa de cuidado. Não é isso de estar sempre ali em pé. Ele não pode ser algo que você coloca como enfeite, feito essa artificialidade que está na mesa. Não! Você não sabe cuidar.Você está criando uma estante de flores e deixando elas murcharem lá, sem ar, quietas, sozinhas, carentes de atenção. Até que um dia uma morre. Despedaçae. Despetala. Algumas já se foram mesmo. Mas você nem olha a estante. Você quer essa moldura , essa aparência firme e forte, essa segurança que não quebra. Que não recebe e não dá. Você quer se relacionar com plástico. E foge quando um girassol ou um lirio batem à sua porto. Finge que não é nada, os coloca na estante e vai à tenda da esquina comprar um efeite feito de nada natural. Você precisa sentir. Precisa parar de se sentir plástico.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Não é hora de pousar.

Seja inverso.

Rasgo

Rasga essa pele.
Raspa esse pelo.
Nada disso é seu.

Sair assim do seu lugar estavél. Reconhecer a si mesmo. Ele precisou sentir que as palavras eram necessarias. Que sua tentativa de gritar com o corpo ainda não teve seu espaço. Perdeu sua forma. Agora desforme tenta  encontrar-se em um novo lugar no mundo. Ou ficar pairando por um novo mundo, em vários lugares. Ou ser lugares e sons e palavras. E ser afeto. Descobrir-se em cada curva novo.

domingo, 4 de julho de 2010

Tira o piso
Tira o peso
e voa para outro lugar.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sofá

Eram as flores que já não estavam mais ali. E isso doia nele.
Quiz aprender a plantar. Pegou uma pá e cavou um buraco no quintal. Depois colocou ali dentro uma semente de qualquer coisa. Era importante que um dia crescesse qualquer coisa em seu quintal e que tirasse dele, essa idéia de que nada ali iria mudar mesmo. Tinha ficado parado desde que ela se fora. Tinha um cuidado em não ser amado mais. Coisa um pouco cruel. Mas optou por isso desde que se viu fazedor das dores da moça do vestido lilás. É que quando ela partiu ( obrigada por ele) espremeu nele todas as suas cicatrizes e vôou livre para outro lugar. Ele gostava disso, a admiriva. Certamente não era mais aquele tipo de amor que ele tinha por ela. Mas nutria um cuidado com o mundo como se tivesse que carregar em si os medos, as dores e as falhas dos outros.
O fato é que ele não aguentaria por muito tempo. Ou fazia crescer coisas novas em si, ou cavava buracos que mais tarde iriam servir à própria cova. Optou por plantar alguma coisa. E ficou ali, dias, olhando aquele ponto de terra mais macia, esperando que algum sinal de vida surgisse naquela imensidão vazia. É! Parecia não ter jeito mesmo. Parecia que nada mudaria. Ele aceitou. O que mais poderia fazer? Sim, poderia ter colocado sua roupa menos fora de moda e ido à qualquer lugar e encontrado uma pessoa qualquer. Ele aceitou. Abriu seu armário, pegou uma blusa vermelha e uma calça jeans. Ele tinha coisas atemporais. Porque jeans é sempre usável. Então foi à busca da chave da casa. Como fazia tempo que ficava naquele sofá, esquecera-se onde a tinha guardado.




Continua.