quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Por enquanto

Eu aceito.
Seu cravo, seu jeito.
Aceito sua falta de palavra, minha atitude inventada.
Aceito nossa saudade encorajada pelo celular.
Aceito ir na mala e ser carregada para um lugar esquisito.
Mesmo com insetos e bichos.
Eu disse,
eu tomo anti-alérgico.
Deixe-nos nessa invenção de nós dois.

Dois

Prometeu-me um pente novo.
àgua quente no chuveiro
café da manhã na cama.
Prometeu-me penteado
horas de sono
Prometeu
abraços sinceros

conversas suaves
compromissos atrasados
casamento desmarcado
filhos inventados
lua de mel
Prometeu Paris
Berlim e Londres também.
Prometeu beijos embaixo de chuva na Lapa
mãos em Copacabana
sorrisos no café da manhã.
Café em Ipanema
filhos adotivos na Lagoa
Despertador às duas da manhã.
Flores às três.


Tudo.
Esqueceu de prometer saudade e distância.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

OCO

É preciso um coração oco para continuar em pé.

Para bombear o sangue.

Encher de amor o coração entope os atrios e ventriculos.

Adoeci.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

sinceridades

Deu-me uma saudade.
Assim.
Não sei.
Faz falta.

Deu-me uma saudade
Assim, dos sorrisos.
Dos braços.
Dos corpos.

Pensei na despedida que não teve.
No papel em branco não escrito.

Deu-me lágrimas.
Eu queria aí estar.
Contigo, só, para sentir nossos abraços de novo.

Não sei o quanto de nós se foi de verdade.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vão

Ela vai acordar às três horas da manhã.
Vai passar o café.
Vai abrir o livro na página duzentos e noventa e oito.
Vai amar a parede e os porta retratos.


Então, ela vai acordar.
Vai levantar,
às duas e cinquenta e cinco.
Vai à varanda e vai contemplar o céu.

Ela vai despertar o corpo.
Serão duas da madruga.
Sei que vai amar em silêncio o silêncio.
Depois vai sorrir.

Os olhos abrem,
pensa no chocolate que deixou na geladeira.
Fecha o livro.
Está tudo verde.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sonífero

As unhas não estão feitas
Os cabelos precisam ser cortados
O peixe está no forno
Tem vinho na geladeira
Está calor
Vírgula
eu estou vestida com o vestido que você não gosta
Ponto

O que mais há para dizer?
Bom,
há flores,
perfume.

Você reclama meu afastamento. Diz sobre a voz, os olhos, os braços.
Eu digo eu estou aqui, e pergunto: quer sinceridade maior que esta?
E digo você pode me despir dos tecidos.
Eu estou aqui.
Você pode sorrir.

Vamos jantar?
O jantar está pronto. Eu estou nua.
Você vestindo-se.
Vamos jantar. Antes que queimemos o molho.
Você entrega-me um papel.
Eu digo
Não sei ler.
Mentira.
Digo, não quero ler.
Me diz. Quais e quantas são as palavras?

Eu estou com preguiça, mas quero dançar.
Chove. Começa a chover, agora.
Vou ao quintal. Molho meu corpo, nu.
Grito:
Quer sinceridade maior que esta?

Você me bebe. Bebe o vinho.
Vamos dormir?
O peixe estava bom?
Disse que não sabia cozinhar,
você acreditou no molho de damasco.
Vamos dormir.
OU acordar os olhos.

Não sei onde estão as tolhas.
Deito-me aqui, nua, na grama, cobrindo-me pela chuva.
Acho gostoso.
Você olha. Acha bonito.
Sorriso.
Que bom.
Vem comigo.
Me deita.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Avalanche

Sabe essa avalanche que é o mundo no corpo?
 Eu gosto.
E por isso quero mais. Ser mais repartida em 550 fatias, por dia. Parace muito, mas pouco será ficar imóvel dizendo: SEI.
                                 Eu não sei.
Sinto as avalanches, as perfurações. Mas existe sorriso sim, sincero. Nos encontros.
                                                          Outro dia encontrei um pote de verduras. Achei-as belas. Estavam misturadas e, mesmo assim, sorriam. Como se sorri quando se está prester a ser mastigação. Acho que elas, em mim, agora estão questionando a horta de onde vieram. Disseram-me: "parecemos, todas, repetições". Cada uma chora de uma forma quando se arrancam da terra.