sábado, 3 de outubro de 2009

porCelanas

As porcelanas se bateram , mas não tão forte que pudessem se quebrar. Após o susto da provável rachadura , minha mão encontrou teus braços. Era o primeiro contato de algo. Digo algo , porque até hoje não posso definir-nos. Não quero. Não definirei o que foi , nem o que é agora. Foi preciso a possibilidade do fim da delicadeza da porcelana para que um contato nascesse entre nós , o que seriam os restos de nossas trocas ? Rachaduras eternas em nossas almas, abraços medrosos cheios de culpa, olhares trêmulos acompanhados por barulhos de quedas. Era isso que nos mantinha juntos em pé . Excitava a alma , o corpo , saber que meu toque em você provocava tal tremor. Somos essa eterna possibilidade . Quando algo estar pra acabar , nossos olhares se cortam e reiniciamos com toda a delicadeza das porcelanas.

“Querida Porcelana” , Assim você começa sua carta. Com um sorriso nas palavras que me faz voar. E me diz “ matéria delicada e cheia de beleza , que me faz querer abraçar para que ninguém à faça rachar” . Sempre gostei de , por ti , se chamada de porcelana. Isso nos une. Cria algum vinculo eterno. Como precisamos de algo eterno né? O nosso “ Nós” é insustentável. Não há como nos prendermos um ao outro , o preço disso seria a quebra de muitas xícaras , bules e etc... Não queremos esse preço. Não queremos nem pagar. Queremos abraços , beijos eternos , sem despedidas mas já com gosto de saudade. Querendo ser levado pelo vento até que outro encontro nos faça salvar em um movimento ambíguo uma nova e delicada porcelana. Como uma coisa de aparência tão delicada pode ser tão resistente?

Fico tentando achar algo que nos rache de verdade . Não porque quero encontrar , mas sim por prefiro nos proteger de algo. Você sempre diz “Adeus” e me deixa uma nova carta, sem promessa de volta. E eu não espero . Vivo , vôo também. Mas quando seus braços me tocam novamente , fico à espera daquela carta de despedida. Que relação improvável essa que se dá pela vontade do “ adeus” e pela tensão da volta. Eu amo você, seu corpo , seus olhos , seu sorriso. Amo quando nos jogamos num canto qualquer. Gosto do cheiro do seu cabelo roçando nas minhas costas . .. Existe um tremor , uma vontade de se jogar , uma jogada sem medo , uma pagada sem compromisso... Vai indo e vindo .. Mas sempre salvamos as porcelanas.

Dominique Arantes

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