sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sofá

Eram as flores que já não estavam mais ali. E isso doia nele.
Quiz aprender a plantar. Pegou uma pá e cavou um buraco no quintal. Depois colocou ali dentro uma semente de qualquer coisa. Era importante que um dia crescesse qualquer coisa em seu quintal e que tirasse dele, essa idéia de que nada ali iria mudar mesmo. Tinha ficado parado desde que ela se fora. Tinha um cuidado em não ser amado mais. Coisa um pouco cruel. Mas optou por isso desde que se viu fazedor das dores da moça do vestido lilás. É que quando ela partiu ( obrigada por ele) espremeu nele todas as suas cicatrizes e vôou livre para outro lugar. Ele gostava disso, a admiriva. Certamente não era mais aquele tipo de amor que ele tinha por ela. Mas nutria um cuidado com o mundo como se tivesse que carregar em si os medos, as dores e as falhas dos outros.
O fato é que ele não aguentaria por muito tempo. Ou fazia crescer coisas novas em si, ou cavava buracos que mais tarde iriam servir à própria cova. Optou por plantar alguma coisa. E ficou ali, dias, olhando aquele ponto de terra mais macia, esperando que algum sinal de vida surgisse naquela imensidão vazia. É! Parecia não ter jeito mesmo. Parecia que nada mudaria. Ele aceitou. O que mais poderia fazer? Sim, poderia ter colocado sua roupa menos fora de moda e ido à qualquer lugar e encontrado uma pessoa qualquer. Ele aceitou. Abriu seu armário, pegou uma blusa vermelha e uma calça jeans. Ele tinha coisas atemporais. Porque jeans é sempre usável. Então foi à busca da chave da casa. Como fazia tempo que ficava naquele sofá, esquecera-se onde a tinha guardado.




Continua.

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