domingo, 10 de julho de 2011

circulação

É para não esquecermos que não somos duros feito concreto. Para podermos atravessar a pele. Pela pele. Pura pela. Pelo corpo. Corpo é lugar do acaso. É feito do outro. Não da minha pela. Meu corpo está sendo pelo corpo daquela moça ali, que atravessa a rua e tropeça, e mais daquele rapaz, que é alto narigudo, e que passa correndo por mim, como quem me virasse com o vento que faz sua passada. É só pele, e pelo. Então não nos diga para entender quando minha mãos se esticam tentando pegar as suas. É só pela pele, ou pelo. É essa respiração que fica entre nossas respirações. Átomos? Sim tem uma coração. Que já saiu do peito varias vezes. Ele circula, tal qual os outros órgãos. Eu te amo no peito esquerdo. Às vezes meu amor está nas mãos. Às vezes, no púbis. Quando quero muito dizer, sobe ele, o coração, então, ele percorre todo o corpo, e movimenta todos os outros corpos, digo órgãos, que já estão assim embaralhados, e vem até a boca, o meu amor vem à boca, quase saltando querendo ser morte. E eu te amo ali, na boca. Enfim, é só sobre essa troca da pele, dos pelos, dos átomos, dos órgãos. É para não esquecermos que somos corpos atravessados. O corpo é lugar do acaso.

Nenhum comentário: