segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cor

Deixe-me restar.
É assim que estamos.
Não vou prender-me à você, nem à casa, nem às paredes.
Aqui, onde tudo é melhor.
Mentira.
Onde está o telefone?
Não consigo mais me comunicar com alguém.
Que não seja sua voz.Com ela eu falo.
O que você fez com as cores da casa?
Está tudo soterrado. Ou eu não estou mais vendo os retratos?
Possível. Isso é.
Vou pedir que não me forces respostas.
Não as tenho. Nunca as tive. Você sabe.
Porque insiste em perguntar sobre a geladeira?
Eu sei, há comida podre.
Engole esse choro.
É tudo fingimento.
Meu.
Não sou assim forte.
Você sabe. Eu sei. Acho que todos sabem.
Só porque você me viu como uma mulher inteira não quer dizer que eu a seja.
Eu ainda estou em fragmentos. Faz parte.
Você nos disse: Cada um tem seu tempo.
Não me force ao seu.
Você é covarde. Prende-me aqui, até que nossos tempos se encontrem.
Para que? Isso não me faz estar presa à você.
Outras pessoas passam pela janela.
Eu flerto.
Eu assumo.
Não brigue comigo. Eu estou assumindo.
Deixe-me partir. Não quero esperar nosso tempo.
Você é imaturo.
Às vezes some e eu fico sem comida. Fico descascando as paredes.
Entendeu porque elas estão sem cor? Eu me alimentei dos nossos restos.
Deixe-me restar.
É assim que estamos.
Eu não vou me soltar de você, nem da casa, nem das paredes.

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