quarta-feira, 3 de novembro de 2010

?

Desculpe-me o egoísmo.

Tem alguém gritando lá fora, e eu reclamando de solidão aqui dentro. Eu estou um pouco assustada. Na verdade, estou com medo. Não sei o que fazer. Sou incapaz , por medo, de descer e prestar ajuda. Eu choro. É um pouco assustador esse gemido todo à essa hora da madrugada. E o pior é que eu nem consegui enxergar a sua cara. A cara da mulher que gritava, assim, as duas e vinte e quatro da manhã. Que imobilidade a minha. A nossa. Agora tudo silênciou-se. Não na minha cabeça. Como faço? Estou um pouco apavorada com toda essa gritaria que se foi. A gente não tem como fugir a matéria. É isso que somos. Corpos. E eles machucam, rasgam, sanram. Como pode? Machucar assim um corpo. Eu sei, estamos cansados desse discurso. Mas não dá. O que se faz com essa nossa imobilidade? É que os gritos interferiram toda a minha possibilidade de reclamação sobre nós. Porque prefiro estar só à estar aos berros com alguém que me invade a matéria. Eu não sei se vou conseguir dormir. Eu sei que estou, agora, segura aqui. As portas estão trancadas. Mas não é possível tranquilidade agora. Me sinto tão minúscula. Não sei resolver o quadro torto pendurado na parede, e quero dar conta da rua. Como faço? Eu não sei se sou capaz de proporcionar alguma mudança. Eu quero abrir as janelas, pulá-las. Onde se muda o todo? Que incapacidade. Que incapacidade. Fico achando que esse teatro todo não modifica nada. Só aumenta a gastrite. E a rua continua distante.

Nenhum comentário: